QUEM SÃO OS 144 MIL SELADOS NO LIVRO DO APOCALIPSE?

Quem de nós, antes de estudarmos, já se perguntou quem são os 144 mil mencionados no livro do Apocalipse? Principalmente por conta de algumas seitas que fazem uma interpretação literal dessa passagem e distorcem o seu significado. Será que somente os 144 mil entrarão no céu? E quem são esses 144 mil? Vamos descobrir!
Métodos de Interpretação do Apocalipse
O livro do Apocalipse apresenta inúmeros desafios para os seus interpretes, pois o livro é cheio de simbolismos que se interpretarmos literalmente perderemos o sentido pretendido por João ao escrever as sete igrejas da Ásia. Entre os interpretes do Apocalipse podemos encontrar alguns tipos de abordagens como (1) Interpretação Preterista – essa abordagem ensina que a maioria dos símbolos, relatados no livro do Apocalipse, já aconteceram no final do 1º Século da era cristã; (2) Interpretação Historicista – esse modo de interpretar o Apocalipse vê as revelações contidas nesse livro como algo que acontece na história da igreja desde o final do 1º século até os dias de hoje, ou seja é a história da igreja de todas as eras; (3) Interpretação Idealista – Esse método de interpretação vê os símbolos do livro do Apocalipse como ensinamentos atemporais relacionando-se com a era da igreja entre os dois adventos; (4) Interpretação Futurista – esse método de interpretar o livro de Apocalipse diz que os eventos, símbolos narrados no capítulo 4 – 22, estão relacionados com eventos que acontecerão no futuro introduzindo o escaton; (5) Interpretação Eclética – Essa abordagem tenta combinar todas as outras 4 linhas de pensamento. Todos esses tipos de abordagens, e existem outros ainda, são importantes, pois determinam o significado das passagens. Quem são os 144 mil vai depender do método de interpretação que é utilizado para a exegese do Apocalipse. Para solucionar esse problema OSBORNE diz que “a solução está em permitir que os métodos preterista, idealista e futurista interajam de tal forma que os pontos fortes sejam destacados e se minimizem as fragilidades de cada um” (2014, p.24). A essa solução proposta por Osborne, Beale dá o nome de “Forma histórico-redentora de idealismo modificado” essa abordagem “interpreta os símbolos como tendo um sentido inaugural, como se descrevessem a era da igreja desde o presente até o futuro” (BEALE apud OSBORNE, 2014, p.24). Embora Osborne utilize essa metodologia de interpretação em seu comentário do Apocalipse, ele afirma que a posição futurista se destaca mais. No entanto, nesse estudo utilizaremos a mesma abordagem de Beale com destaque para a posição Idealista.
OS 144 MIL DE APOCALIPSE
Com exceção do método futurista, todos os outros métodos interpretam o 144 mil como simbólico e não literal. Lembre-se que o livro do Apocalipse é altamente simbólico e profético (Apocalipse 1.1,3), do começo ao fim.  As passagens que mencionam o número de 144 mil são Apocalipse 7.4 “Então ouvi o número dos que foram selados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos de Israel”; Apocalipse 14.1 “Então olhei, e diante de mim estava o Cordeiro, de pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil que traziam escritos na testa o nome dele e o nome de seu Pai”; e Apocalipse 14.3 “Eles cantavam um cântico novo diante do trono, dos quatro seres viventes e dos anciãos. Ninguém podia aprender o cântico, a não ser os cento e quarenta e quatro mil que haviam sido comprados da terra”. 
João começa essa seção dizendo: “então ouvi o número dos que foram selados”, é importante ressaltar que “os números em Apocalipse 7, 12 x 12 x1000, salientam a completude” (OSBORNE, 2014, p.347), e KISTEMAKER afirma que “por toda Escritura, mas especialmente no Apocalipse, sete significa completude. O número dez retrata a plenitude do sistema decimal; o número doze exemplifica a perfeição, e o número mil sugere uma multidão” (2004, p.27) quem são esses 144 mil? João está falando de Israel ou da Igreja? É possível esses números representarem completude, perfeição e João estar falando apenas do povo de Israel? Não. Os 144 mil é um número simbólico que representa todo o povo de Deus.
O número dos que são selados é 144.000, que é doze vezes doze mil (doze ao quadrado vezes dez cúbitos). O número doze, no Apocalipse, sempre se refere àquilo que é perfeito: os santos (7.5-8), a mulher com doze estrelas em sua cabeça (12.1), as doze tribos de Israel (21.12), os vários aspectos da nova Jerusalém (21.1 2,1 4,16) e os doze frutos que as árvores produzem (22.2). E o número mil é dez vezes dez vezes dez, que é uma multidão. Dez é o número de plenitude no sistema decimal. Daí, 144.000 é um número simbólico que expressa uma multidão marcada por perfeição absoluta. (KISTEMAKER, 2004, p.321-322)
            Com esse simbolismo dos números, João está afirmando que Deus sabe quem são os seus selados de todas as épocas, o texto não diz que ele viu 144 mil, mas que ele ouviu o número dos selados, número esse representativo dos salvos de todas as épocas, ou seja, da igreja do Senhor, esse número exato, perfeito só é conhecido por Deus.
            Algumas considerações que comprovam que ao mencionar as tribos de Israel não pode haver uma interpretação literal.
(1)  Nenhuma lista do Antigo Testamento tem essa mesma ordem que aqui em Apocalipse.
(2)  As listas do Antigo Testamento colocam Rúben em primeiro lugar por ser o primogênito, no entanto, aqui em Apocalipse quem aparece em primeiro lugar é Judá.
(3)  Dã é omitido da lista em Apocalipse. Essa ausência geralmente é justificada por conta de a tribo ter caído em idolatria (Jz 18).
(4)  José é mantido na lista mesmo com o nome de Manassés seu filho. Efraim e Manassés sempre são incluídos nas listas do Antigo Testamento em substituição a José e Levi. No caso da lista aqui em Apocalipse parece que a menção da tribo de Manassés substitui a tribo de Dã.
Os estudiosos do livro do Apocalipse não entram muito em acordo do porque João menciona as tribos da maneira como está disposta no capítulo 7, mas a maioria deles concordam que a referência aos 144 mil é símbolo dos eleitos de Deus de todas as eras, do Israel de Deus – a igreja. Abaixo coloco algumas indicações de que João está de fato falando da Igreja.
(1)  João, em primeiro lugar, está falando para as sete igrejas da Ásia. Em todo o livro do Apocalipse podemos verificar a centralidade da igreja. Já no primeiro versículo do Apocalipse verificamos que o livro é a “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos...” (Apocalipse 1.1), lembrando que os seus servos são membros do seu corpo que é a igreja, e no final do livro, no capítulo 22.12-14 vemos que nos portões da Nova Jerusalém estão inseridos os nomes das doze tribos de Israel bem como os nomes dos dozes apóstolos de Jesus Cristo, indicando a unidade entre o povo de Deus do Antigo Testamento e o povo de Deus do Novo Testamento.
(2)  Os leitores originais das igrejas a quem as cartas do Apocalipse são endereçadas entendem o texto como uma referência a eles mesmos, pois os 144 mil são os que são selados e saem vencedores da grande tribulação por se manterem fieis a Jesus Cristo em meio a grande perseguição, injustiça, sofrimento. Tudo isso os leitores estavam passando quando receberam o Apocalipse de Jesus Cristo.
(3)  Ao estudarmos o Novo Testamento verificamos que ele contém ensinos que identifica a igreja com o verdadeiro Israel e “todas as visões que interpretam ‘o Israel de Deus’ como referência aos judeus e não aos gentios [...] deixam de levar em conta suficientemente o contexto da carta aos Gálatas. Pois, em uma carta na qual Paulo está ocupado em tratar como negligenciáveis as distinções entre judeus e gentios e em argumentar a favor da igualdade entre os crentes gentios e os crentes judeus, é difícil vê-lo no final dela pronunciando uma benção (ou bênçãos) que contribuiria para dividir esses grupos dentro da igreja”. (LONGENECKER apud OSBORNE, 2014, p.349) Também existem outras passagens no Novo Testamento que fazem essa identificação, indiretamente, como a igreja sendo o Israel verdadeiro. Em Gálatas 3.29 Paulo diz: “Se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão...”; Romanos 2.29 “Mas Judeus é quem o é no interior, e circuncisão é a do coração, realizada pelo Espírito”; Filipenses 3.3 “Porque nós é que somos a circuncisão, nós, os que servirmos a Deus em Espírito”. Por essa e outras passagens entendemos que a Igreja é o verdadeiro Israel. (cf. Romanos 4.11; Gálatas 6.16; 1ºPedro 2.9).
Os comentaristas do livro do apocalipse podem até divergir na metodologia de interpretação do livro do Apocalipse, entretanto, a maioria deles, concordam que essa referência aos 144 mil é uma referência a igreja, pois “há boas razões para crermos que pelos 144.000 João quer identificar o Israel espiritual – a igreja”. (LADD, 1980, p.86) Hendriksen também concorda com essa interpretação, pois ele afirma que “é bem claro, portanto, que a multidão dos selados de Apocalipse 7 simboliza a totalidade da igreja da antiga e da nova dispensações. A fim de enfatizar o fato de que não é pequena a referida porção da Igreja, mas toda a Igreja militante, esse número 144 é multiplicado por mil. Um mil é 10x10x10, que indica um cubo perfeito, isto é, uma completa reduplicação. [...] Os 144.000 indivíduos selados das doze tribos de Israel simbolizam o Israel espiritual, a Igreja de Deus na terra”. (HENDRIKSEN, 2011, p.134)
Outra evidência interna no livro do Apocalipse de que os 144 mil representa o Israel de Deus - a igreja de todos os tempos, é a outra passagem no livro do Apocalipse que menciona esse número – Apocalipse 14.3 diz: “Eles cantavam um cântico novo diante do trono, dos quatro seres viventes e dos anciãos. Ninguém podia aprender o cântico, a não ser os cento e quarenta e quatro mil que haviam sido comprados da terra”. Com referência aos 144 mil mencionados também no capítulo 14 de Apocalipse HENDRIKSEN afirma “essa é a multidão selada, mencionada no capítulo 7. Ali, esses santos ainda vivem na terra cercados por inimigos. Aqui eles gozam da benção do céu depois do julgamento final. Embora o dragão tenha tentado ao máximo torna-los infiéis ao seu Senhor, e mesmo que ele tenha empregado duas bestas para assisti-los, não faltará nenhum desses 144.000 ‘quando se fizer chamada’”. (2011, p.180) Esses 144 mil são as pessoas compradas de toda a terra pelo sangue do Cordeiro que foi morto, são os que foram resgatados das trevas para a luz, são os que foram selados e por causa da preservação de Deus, a constante intercessão de Jesus diante de Deus por eles, eles perseveraram e permaneceram fieis ao Senhor Jesus Cristo.
Qual é o significado do número 144.000? Este número é a soma de doze vezes doze vezes mil. No Apocalipse, o número doze só se refere a Deus, a seu povo e a suas obras (por exemplo, doze tribos, doze estrelas, doze apóstolos, doze portões e doze fundamentos). Doze, simbolizando perfeição, é elevado à segunda potência em 144 e em seguida multiplicado por mil. Mil são dez vezes dez vezes dez, que está para uma multidão. Assim, o número 144.000, simbolicamente, significa perfeição vezes perfeição vezes uma multidão. Este número constitui a totalidade do povo de Deus, o verdadeiro Israel de Deus. (KISTEMAKER, 2004, p.511)
A diferença entre os 144 mil do capítulo 7 e os 144 mil do capítulo 14 é que no capítulo 7 os 144 mil – a igreja, estão sendo perseguidos, sofrendo, sendo injustiçados, mas aqui no capítulo 14 os 144 mil são o povo de Deus já redimido, cantando o hino da vitória, um cântico que somente os comprados da terra, pelo sangue de Jesus Cristo poderão cantar. Aqui, nessa passagem do capítulo 14, a totalidade do povo redimido de Deus está na Sião celestial celebrando a vitória, são os vencedores, e a vitória que vence o mundo é a nossa fé (1º João 5.4,5). Os vitoriosos só são perseverantes por causa da preservação de Deus – louvado seja o nosso Deus que nos dá a vitória por meio de Jesus Cristo!
Conclusão

Deus tem um povo na terra, esse povo é conhecido do Senhor, mesmo que alguns ainda não foram selados, todos serão selados. Esses selados carregam o nome do Senhor Jesus e de Deus em suas testas, são perseverantes, são fieis, não negam o seu Senhor, não o abandonam, mesmo em meio a dor, em meio a perseguição, mesmo padecendo necessidades, eles permanecem fieis e um dia todo esse povo estará na Nova Jerusalém louvando a Deus e desfrutando das promessas de Deus. Lá não haverá mais morte, não haverá dor, não haverá tristeza, não haverá lagrimas, pois Deus consolará o seu povo de todas as tristezas e angustias. Louvado seja Deus por tão grande salvação ofertada a nós por meio de Jesus Cristo o nosso Senhor! A Ele honra, glória e todo louvor!

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