COMO LER LIVROS

                                         
                                            COMO LER LIVROS
   
    Abaixo eu coloco um resumo (com as palavras do próprio autor), sobre um livro que nos ensina a ler livros. Este livro foi lançado na década de 40 nos Estados Unidos pelo escritor e filosofo Mortimer Adler. Tive o primeiro contato com esse livro na biblioteca da faculdade, lá eu encontrei uma antiga edição com o título: A Arte de Ler. Gostei tanto do seu conteúdo que tive que comprar. No começo tive dificuldades para encontrá-lo, pois o título do livro, em português havia mudado para: Como Ler Livros. Recomendo a leitura desse excelente livro.

Primeiro estagio da leitura analítica: As primeiras quatro regras permitirá responder à primeira pergunta básica sobre o livro. ESTE LIVRO É SOBRE O QUÊ?

1.   Você tem de saber qual tipo de livro está lendo e deve saber o mais cedo possível, antes de começar a lê-lo, de preferência, ou seja, classificar o livro de acordo com o título e assunto.

1.1  Que tipo de livro é esse? É prático ou é teórico? É matemática ou é filosofia?

2.    Expresse a unidade do livro em uma única frase, ou no máximo em algumas poucas frases (um parágrafo curto).

2.1  O livro como um todo é sobre o que? Qual o tema ou ponto principal do livro?

2.2  Há apenas uma maneira de descobrir se você saiu-se bem: tem de ser capaz de dizer a si mesmo, ou a outras pessoas, qual é a unidade do livro, e em poucas palavras. (se forem necessárias muitas palavras, você não captou a unidade, mas a multiplicidade.)

3.   Exponha as partes principais de livro e mostre como elas estão ordenadas em relação ao todo, ordenando-as umas às outras e à unidade do todo.

3.1 De acordo com a segunda regra, tínhamos de dizer: o livro como um todo é sobre isto e aquilo. Feito isso, podemos cumprir a terceira regra dizendo assim: (1) o autor cumpre esse plano em cinco partes; a primeira parte é sobre isto, a segunda sobre aquilo, a terceira sobre aquilo outro, a quarta sobre outra coisa e a quinta sobre ainda outra coisa diferente; (2) a primeira dessa partes é dividida em três seções, a primeira considera X, a segunda Y e a terceira Z; (3) na primeira seção da primeira parte, o autor expressa quatro pontos; o primeiro ponto é A, o segundo é B, o terceiro é C e o quarto é D. E assim por diante.

4.     Descubra quais foram os problemas do autor.
4.1 O autor começa um livro com uma pergunta (ou um conjunto de perguntas). O livro nada mais é do que sua resposta (ou suas respostas).

4.2  Você terá de ser capaz de expressar a principal pergunta que o livro tenta responder, além de ser capaz de expressar as perguntas subordinadas a ela, caso a pergunta principal seja muito complexa e contenha muitas partes.

As quatro ultima regras, da quinta a oitava, permitirá responder à segunda pergunta básica sobre o livro.  O QUE EXATAMENTE ESTÁ SENDO DITO?

5.     Encontre as palavras importantes e, por meio delas, entre em acordo com o autor.
5.1 Procure determinar se a palavra tem mais de um sentido. Você tem de descobrir o sentido de uma palavra que não entende por meio do significado de todas as palavras que você entende no contexto.

5.2 Bons autores frequentemente substituem as palavras importantes por palavras que contenham significados similares, ou seja, sinônimos.

5.3 Encontrar as palavras importantes, identificar os significados alternativos e descobrir os termos.

6. Marque as frases mais importantes do livro e descubra as proposições que elas contêm.

6.1 A proposta de um livro também é uma declaração, ou seja, é uma expressão do julgamento do autor sobre alguma coisa. Ele afirma algo que juga ser verdade, ou nega algo que julga ser falso. Ele confirma este ou aquele fato. Uma proposta desse tipo é como uma declaração, mas de conhecimentos, e não de intenções. O autor talvez nos informe sua intenções no começo do prefácio, por exemplo. Mas, para descobrirmos se ele manteve sua promessa, temos de procurar suas propostas.

6.2 As propostas de um autor não passam de sua opinião, a não ser que sejam fundamentadas por boas razões. Se estamos interessados no livro e no assunto do livro, e não apenas no autor, então vamos querer conhecer não apenas sua propostas, mas por que ele acha que devemos nos deixar persuadir e aceitá-las.

7. Localize ou formule os argumentos básicos do livro com base nas conexões entre frases.

7.1 Existe uma grande quantidade de raciocínios, ou seja, uma grande quantidade de maneiras de se fundamentar o que se diz. Às vezes, é possível argumentar que algo é verdadeiro; às vezes, só é possível defender uma probabilidade. Mas todo tipo de argumento consiste em declarações que se relacionam de determinada maneira. Diz-se isto por causa daquilo. A expressão “por causa” sinaliza justamente uma razão, uma explicação.

7.2 Um argumento nada mais é do que uma serie de afirmações ou declarações que fornece os fundamentos ou razões para aquilo que se está concluindo. É necessário um parágrafo, portanto, ou pelo menos uma serie de frases, para expressar um argumento.

7.3 O leitor ativo está atento não apenas às palavras, mas às frases e aos parágrafos. Não há outra maneira de descobrir os termos, as propostas e os argumentos de um autor.

7.4 Nem toda frase de um livro expressa uma proposição. Primeiro, algumas frases expressam perguntas, ou seja, elas expõem problemas em vez de respostas. Proposições são as respostas às perguntas. Elas são declarações de conhecimento ou opinião. É por isso que algumas frases são chamadas de declarativas enquanto outras são chamadas de interrogativas. Há ainda frases que expressam desejos ou intenções. Elas podem nos informar sobre o propósito do autor, mas não transmitem o conhecimento que ele está tentando expor.

7.5 O coração da comunicação reside nas principais afirmações e negações, e nas razões que fornece para sustenta-las.

7.6 Se você nunca se questionar sobre o sentido de determinado trecho, então nunca poderá esperar que o livro lhe forneça qualquer insight que ainda não possua.

7.7 Um argumento começa em um lugar, passa por outro lugar e chega ainda a outro lugar. É um movimento do pensamento. Ele pode começar pelas conclusões e proceder fornecendo as razões dela. Ou pode começar com a evidência e as razões para conduzi-lo até a conclusão.

7.8 Enunciar com suas próprias palavras! Isso sugere o melhor teste que conhecemos para dizer se você entendeu a proposição ou as proposições de uma frase. Se lhe pedirem que explique o que o autor quis dizer em determinada frase, e você somente conseguir repetir as próprias palavras do autor com algumas poucas alterações, trata-se de um indicio de que você não entendeu realmente o que o autor quis dizer. Idealmente, você tem de ser capaz de dizer a mesma coisa com palavras totalmente diferentes. É claro que esse ideal pode ser alcançado em diferentes graus. Mas se ficar claro que você não é capaz de se desfazer das palavras do autor, isso mostra que somente palavras lhe foram transmitidas, não pensamentos ou conhecimento. Você conhecerá as palavras do autor, mas não a sua mente. Ele tentou lhe comunicar conhecimento, mas tudo o que você absorveu foram palavras.

7.9 Há ainda outro teste para avaliar se você compreende a proposição de determinada frase. Você consegue indicar alguma experiência pessoal descrita pela proposição, ou na qual a proposição é pelo menos relevante? Você consegue dar um exemplo da regra geral que esta sendo enunciada indicando alguma circunstancia específica? Imaginar um caso á às vezes tão proveitoso quanto citar um caso real. Se você simplesmente não conseguir exemplificar ou ilustrar determinada proposição, seja imaginativamente, seja apontando uma experiência real, talvez esteja na hora de começar a suspeitar de que não entendeu o que está sendo dito.

7.10 Encontre, se puder, os parágrafos que expressam os argumentos importantes do livro; mas se os argumentos não puderem ser encontrados dessa maneira, você terá de construí-lo, juntando frases de diversos parágrafos, até que consiga compor sequencia de frases que enunciem as proposições que compõem o argumento.
8. Descubra quais são as soluções do autor.

8.1 Quais dos problemas abordados pelo autor ele realmente conseguiu resolver? Na tentativa de resolvê-los, será que o autor criou novos problemas? Dos problemas em que ele fracassou, velhos ou novos, em quais o próprio autor reconhece que fracassou?

8.2 Determine quais problemas o autor conseguiu resolver e quais ele não conseguiu resolver; neste caso, decida se o autor sabe que fracassou ao não resolvê-los.
Segundo estagio da leitura analítica.

9. Você tem de dizer com razoável grau de certeza “eu entendo” antes que possa dizer “concordo” ou “discordo” ou “suspendo julgamento”.

9.1 Criticar não significa discordar. Concordar é um exercício de julgamento critico, assim como discordar.

10. Quando discordar, faça-o de maneira sensata, sem gerar disputas ou discussões.

10.1 Você deve estar tão preparado para concordar quanto para discordar. Qualquer que seja sua postura, ela deverá estar motivada apenas pelos fatos, pela verdade.

10.2 Se o autor não fornecer razões que sustentem suas proposições, elas poderão ser tratadas como se fossem expressões de sua opinião. O leitor que é incapaz de diferenciar entre conhecimento e manifestação de opinião não lê para aprender. Na melhor das hipóteses, estará interessado apenas na personalidade do autor e usará o livro como fonte de consulta. Obviamente, esse tipo de leitor não concordará nem discordará. Ele não julga o livro, mas o homem.

11. Respeite a diferença entre conhecimento e opinião fornecendo razões para quaisquer julgamentos críticos que fizer.

11.1 O conhecimento consiste nas opiniões que podem ser defendidas. Podemos dizer que algo é verdadeiro somente quando tivermos evidências objetivas que outros homens racionais provavelmente aceitarão.

11.2 Após dizer “entendi, mas não concordo”, o leitor poderá fazer estes comentários ao autor: (1) você esta desinformado; (2) você esta mal informado; (3) você é ilógico – seu raciocínio não é coerente; (4) sua análise está incompleta. (consultar páginas 167 á 173.).
Terceiro estagio da leitura analítica.

12. O melhor elogio que alguém pode fazer a qualquer obra da mente humana é afirmar que ela expressou a verdade; porém, criticá-la por não ter alcançado esse objetivo é sinal de respeitamos e a tratamos com seriedade.

12.1 Qualquer material de apoio que não faça parte do livro chamaremos de extrínseco. Leitura intrínseca significa, portanto, o livro que estamos lendo; por conseqüência, leitura extrínseca significa qualquer livro que seja lido com vistas a outro livro.

12.2 As leituras extrínsecas de fato ajudam. E, as vezes, elas são até mesmo indispensáveis para a compreensão perfeita e total de um livro. O bom senso nos diz que nenhum livro deve, nem pode, ser lido de maneira totalmente isolada.

12.3 Um dos preceitos básicos de leitura é que a ajuda externa deve ser buscada quando um livro permanecer ininteligível, em todo ou em parte, mesmo depois de você ter se esforçado ao máximo para lê-lo de acordo com as regras da leitura intrínseca.



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