DIÁLOGO COM CALVINO – DIÁLOGO #1 O CONHECIMENTO DE SI MESMO LEVA AO CONHECIMENTO DE DEUS


Calvino afirma que quase todo conhecimento verdadeiro que o ser humano possui procede do conhecimento de Deus e do conhecimento de si mesmo, entretanto, é muito difícil distinguir qual conhecimento precede ao outro. Saber quem eu sou de fato me levará ao conhecimento de Deus e saber quem Deus é me levará a ver e conhecer quem realmente sou e ambos os conhecimentos estão interligados. Preocupar-nos com o conhecimento de nós mesmo é importante para conhecermos a verdade. Qual verdade? A verdade de quem eu sou no mundo, minha origem: a verdade de onde eu vim, minha finalidade: a verdade do objetivo da minha existência, meu destino: a verdade da minha essência e da minha continuidade existencial após a fim da nossa existência nesta Era. Conhecer-nos a nós mesmos nos levará ao maior e mais importante conhecimento que podemos ter, ao conhecimento de Deus e consequentemente ao conhecimento de nossa responsabilidade diante dEle e dos outros, os nossos semelhantes.  “Conhece-te a ti mesmo” e isso te levará ao conhecimento de Deus, não um conhecimento de Deus como Salvador, mas um conhecimento de Deus como o criador de todas as coisas, ao conhecimento de Deus como o nosso Criador. Em “Surpreendido pela Alegria” C. S. Lewis narra que a aceitação dele, intelectualmente, da existência de Deus ocorreu antes dele conhecer Jesus Cristo como Salvador. Isso nos leva a, pelo menos duas observações: a primeira é que é possível que você aceite Deus como o Criador de todas as coisas, ou seja, que você seja um Teísta, sem que isso implique em sua salvação; a segunda é que é possível que você creia em Deus como o Criador de todas as coisas, mas não seja um cristão. Mas conhecer a Deus como o Criador de todas as coisas é um importante passo para conhecê-lo como Salvador na face de Cristo.
Uma vez que você começou uma auto investigação, você está no caminho correto e se levar está investigação a sério chegará inevitavelmente ao conhecimento de Deus, pois, como afirma Calvino, Ninguém consegue examinar a si mesmo sem que como resultado dessa investigação chegue ao conhecimento de Deus, pois “dotes” (as qualificações) que possuímos não vêm de nós mesmos, mas de Deus, pois a existência humana é subsistência em Deus (Atos 17.28). Calvino ensina que, o fato de seres humanos subsistirem em Deus, isso os capacita a serem pessoas melhores, é por causa dessa subsistência que tudo de bom que enxergamos nas ações de outras pessoas, em suas relações umas para com as outras, tudo isso advém do fato do ser humano viver em Deus, mesmo que muitos não saibam disso, mesmo que muitos não admitam isso, mesmo que muitos até rejeitem veementemente isso, como é o caso daqueles que não tem o conhecimento da Palavra de Deus, a Bíblia, conhecimento este experimental e não somente teórico. A base desse ensinamento de Calvino está firmada na passagem de Atos 17.28a que diz: “Pois nele [Deus] vivemos, nos movemos e existimos [...] Porque dele [Deus] somos geração”. Esse trecho faz parte do discurso de Paulo em Atenas, e provavelmente, esta seja uma citação por parte de Paulo, de Epimênedes ou Cleantes, na primeira parte, e de Arato na segunda parte. Ou seja, Paulo está utilizando dois autores pagãos para explicar uma verdade universal, de que toda a existência humana é subsistência em Deus. Por isso, o mundo não é, em sua totalidade, feito só de ações cruéis, existe certa medida de bondade no mundo por causa da subsistência dos seres humanos em Deus.
Calvino se apropriando dessa verdade contida em Atos 17.28 está nos ensinando que através dessa bondade de Deus passada para os homens e através dos homens, nós deveríamos, com mais cuidado, buscar a fonte dessa bondade, pois no homem não reside bondade alguma, não há quem faça o bem, todos se desviaram, todos se corromperam, não há ninguém que faça o bem, nenhum sequer. Perdemos a capacidade de fazer o bem por nós mesmos no Éden. Não existe essa bondade natural, bondade inata como ensinam alguns. O ser humano não nasce bonzinho e vai ficando mau conforme vai crescendo e sendo influenciados pela sociedade, nós já nascemos maus. Então quando o homem observar sinais de bondade no outro, quando ele perceber a bondade no outro ou em si mesmo, esses pequenos atos de bondade deveriam leva-lo a pergunta mais importante e consequentemente a busca mais importante de sua vida: De onde vem a bondade que reside nos seres humanos? E através dessa busca, dessas bondades, gota a gota, em mim e nos outros, ele deveria ser conduzido até a fonte de toda bondade que existe no mundo e em cada ser humano, pois todo amor que reside no mundo vem de Deus, todo o bem que reside nas pessoas vem de Deus, toda bondade vem da fonte suprema de bondade – e essa fonte é Deus. Nesta verdade, o evangelho ofende o homem natural, ele afirma que todos os seres humanos são inerentemente maus, enquanto o homem natural se acha um ser bom. Entretanto, as bondades que vemos no próximo e em nós mesmos são oriundas de Deus que as mandam “gota a gota” a fim de que sejamos despertados a buscar Deus que é a fonte de toda bondade e assim, sejamos despertados pelo temor a sermos humildes.
Consequentemente, ao nos depararmos com um ser tão depravado, egoísta, mesquinho e mal, como é o ser humano, e encontrar bondade nele, isso deveria nos espantar e nos levar, imediatamente, a fonte de toda bondade – Deus. A bondade que encontramos nas pessoas, mesma aquela bondade entre mãe e filhos, pais e filhos, filhos e pais, marido e mulher, amigos e amigos, parentes, mesmo essas bondades tem a sua fonte advinda de Deus, pois todos nós, seres humanos, temos certa medida de bondade por causa da nossa subsistência em Deus, no único Deus verdadeiro, e isso deveria nos conduzir para o alto, para a fonte, para Deus. Para que pudéssemos pedir mais de sua bondade em nós e nos outros, o mundo seria um lugar melhor se houvesse mais dessa bondade em cada ser humano. O fato de haver certa medida de bondade nos seres humanos não quer dizer que ele é bom.
 Calvino continua, dizendo que no homem se depara um mundo de misérias que é resultado do pecado original é esse senso de infelicidade que estimula o ser humano a buscar algum conhecimento de Deus. Na consciência das nossas misérias, depravação e corrupção, ignorância e fraquezas é que reconhecemos que somente em Deus existe a plena abundância de tudo o que é bom, instigados por nossas penúrias somos estimulados a buscar a fonte de toda beleza. Não podemos ansiar (aspirar) verdadeiramente por Deus antes de ficarmos descontentes com nós mesmos. O homem que descansa em si mesmo prazerosamente não se conhece. Aquele que conhece a si mesmo é estimulado a buscar a Deus é como aquele que é conduzido pela mão até encontra-lo.
A busca pela fonte de toda bondade que vemos nos seres humanos deveria também servir para que fossemos despertados pelo temor, sim pelo temor, porque se toda bondade, mesmo a mínima bondade que encontramos nos homens mais depravado provem do fato da subsistência do homem em Deus, isso significa que somos totalmente depravados, significa que somos maus, não há bondade em nós que provenha de nós mesmos, isso deveria causar temor em nós diante de Deus, pois ele é um Deus tão bom que empresta a sua bondade, mesmo para homens tão depravados, para que estes utilizem em beneficio de outros homens depravados. Todo bem que nós praticamos, conhecendo a Deus ou não o conhecendo, servindo a Deus ou não servindo, sendo amigo de Deus ou inimigo de Deus, praticamos por causa da nossa subsistência em Deus, não temos nada a oferecer de nós mesmos, absolutamente nada.
Isso consequentemente vai nos levar a outra questão muito importante, pois muitas pessoas pensam e ensinam que merecem o céu ou receber alguma benção de Deus porque se acham pessoas boas, entretanto, como temos falado, se toda bondade provém de Deus, que é fonte de toda luz e de todo dom perfeito, significa que eu sou mau, e se eu sou uma pessoa onde não existe bondade inata, significa que não mereço nada de Deus e que preciso da ajuda de Deus, preciso que alguém que seja totalmente bom, que seja o meu representante, para que eu, em nome dessa pessoa, suficientemente boa, possa receber algum presente da parte de Deus. Quem é suficientemente bom? Quem é perfeitamente bom? Somente o próprio Deus é bom o suficiente, por isso ele enviou Jesus Cristo, o seu Filho, suficientemente bom, perfeitamente bom, para representar todo àquele que nele crer, para representar todo aquele que nele confiar. Quem coloca a sua confiança naquele que é totalmente bom como o seu representante, o único que pode nos representar diante Deus, tem esperança, e dai aprende a humildade, pois sem Jesus não podemos fazer absolutamente nada, nem mesmo ganharmos algum presente de Deus!



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