DIÁLOGO COM CALVINO – DIÁLOGO #2 O CONHECIMENTO DE DEUS LEVA AO CONHECIMENTO DE SI MEMO


Se por um lado precisamos conhecer a nós mesmos para conhecer a Deus, também é verdade que precisamos conhecer a Deus para nos conhecer. Conhecer a si mesmo é importante, mas não será possível sem conhecermos a Deus, ambos os conhecimentos caminham juntos, são irmãos gêmeos. Isto, porque afirma Calvino, que o homem não é capaz de chegar ao pleno conhecimento de si mesmo sem contemplar a face de Deus, e a partir da visão que Deus tem do ser humano, ele comece a examinar-se a si próprio. O orgulho nasce conosco, aos nossos próprios olhos nos consideramos pessoas boas, justas, sábias e integras ao não ser que sejamos convencidos do contrário, e esse convencimento não vem se olharmos apenas para nós mesmos, mas se olharmos para Deus e através dele olharmos para nós mesmo, pois ele é e deve ser o parâmetro para todo ser humano. Devemos assim proceder, pois somos propensos a hipocrisia e a aparência de justiça nos satisfaz em lugar da real justiça, o homem é enganado por si mesmo quando não olha para o Senhor e a partir do Senhor olha para si próprio. Esse erro pode acontecer porque em nós e ao nosso redor reina a depravação e tudo aquilo que for menos depravado pode nos iludir como uma coisa bela e cheia de pureza. O olho exposto somente à cor preta julgará como alvíssimo uma cor mais clara, mas que não é o puro branco.
Ao olharmos para nós mesmos podemos ver semelhança com o nosso criador, podemos ver até mesmo a bondade dele agindo em nós e através de nós. Mas o homem só conseguirá se conhecer perfeitamente se tiver o seu olhar voltado para Deus. Nós nunca saberemos quem nós somos se tivermos os nossos olhares voltados apenas para o nosso umbigo ou para o umbigo do outro, precisamos olhar para Deus. Pois é a partir da visão de Deus, olhando a si mesmo através dos olhos de Deus é que chegaremos ao conhecimento de nós mesmos. Calvino afirma que somos seres orgulhosos, o que de fato somos mesmo, e isso nos atrapalharia de ter uma visão de nós mesmos se comparecemos nós com o outro, pois aos nossos olhos sempre estaremos acima de uns e abaixo de outros seres humanos pecadores como nós. Por isso, precisamos olhar para o céu, e ver através dos olhos de Deus quem realmente somos. Isso porque qualquer aparência de “justiça” em nós mesmos nos satisfaz em lugar da justiça real e verdadeira, afirma Calvino. Pensemos na ilustração do homem da caverna que via imagens através das sombras e pensava que aquilo era o ápice de tudo o que se podia enxergar até que um deles se liberta de suas correntes e descobre o que de fato é real e verdadeiro, assim são todos os seres humanos que olham apenas para si mesmos e para os outros e não olham para Deus, eles não se conhecem como deveriam se conhecer. Sempre que olhamos para o outro tendemos a julgá-lo ou como se estivesse acima de nós ou abaixo de nós e também julgamos os outros iguais a nós moralmente, esquecendo-nos que o padrão vem do alto, vem de Deus.
Calvino afirma que os sentidos do corpo nos ajudam a entender como estamos enganados em relação aos poderes da alma, pois quando observamos as coisas ao nosso redor, podemos pensar que temos uma grande capacidade de percepção até que ao tentarmos olhar para o Sol percebemos que a nossa capacidade de percepção se extingue com o ofuscamento da visão, ou seja, não temos uma percepção da realidade tão grande como julgávamos que tínhamos. Semelhantemente acontece com a nossa vida espiritual, pois ao não alçarmos os nossos olhos para a verdadeira luz, beleza e bondade que estão além da Terra nos orgulhamos fantasiosamente da nossa justiça própria, beleza, sabedoria e virtude elevando-nos a uma posição que não é real. Mas se começarmos a elevarmos os nossos pensamentos para Deus examinando-o minuciosamente para saber quem ele é, descobriremos a perfeição de sua beleza, justiça, bondade e poder e então veremos que a visão que tínhamos de nós mesmos era uma ilusão, pois diante dele a nossa perfeição vira imperfeição, a nossa beleza vira feiura, a nossa bondade vira maldade, a nossa sabedoria vira estupidez, a nossa justiça vira iniquidade, e o nosso poder vira fraqueza, ele é o padrão ao qual devemos nos conformar. Quando o conhecemos percebemos como estamos longe de nos conformarmos com a sua beleza e pureza, como ele é absolutamente perfeito.  

Ouvimos dizerem por ai: “não se subestime” Mas o que aprendemos com Calvino é que temos que fazer o contrário, temos que nos subestimar, principalmente quando estamos falando de qualidades morais ou espirituais, ou qualquer outras qualidades que nos elevam a um outro “patamar” que tenhamos e que pensamos que a possuímos por nós mesmos – isto é uma mentira. Esse olhar equivocado acontece com aqueles que olham apenas para si mesmos e para os outros, olham na horizontal. Mas aqueles que tiverem coragem de olhar para o alto, para Deus, terão uma nova revelação de si mesmos, se descobrirão quem de fato são e toda aquela “qualidade” que observava em si mesmo não passará de trapos de imundícia diante da beleza e perfeição de Deus ao qual somos intimados a imitar.

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