DIÁLOGO COM CALVINO – DIÁLOGO #4 REVERÊNCIA E AMOR, OS REQUISITOS PARA CONHECER A DEUS


Nos primeiros três diálogos nós vimos que Calvino nos ensina que quase todo o conhecimento verdadeiro e sólido que o ser humano pode ter, consiste de duas partes – o conhecimento de Deus e o conhecimento de si mesmo, e inevitavelmente, ao olhar para si mesmo o homem será direcionado para o conhecimento de Deus, pois a bondade que encontramos nas pessoas e através das pessoas é uma consequência delas subsistirem em Deus. O mundo elogia atitudes de amor e conclama de que tais pessoas são merecedoras da justa retribuição de Deus, do favor de Deus, entretanto, o evangelho ofende o ser humano natural porque diz que o ser humano é mal e que toda bondade vista através da vida dos seres humanos é subsistência em Deus. A bondade com a qual somos atingidos são flechas que Deus nos manda através das pessoas para que sejamos instigados a buscá-lo e conhecê-lo. Ao olhar para nós mesmos somos direcionados para Deus, pois há coisas em nossas vidas que são empréstimos de Deus ao ser humano; ao olharmos para Deus descubro quem eu sou de fato, pois a nossa feiura fica patente diante da maravilhosa beleza de Deus. Para conhecer-me preciso conhecer, em primeiro lugar, Deus! A não ser que eu queira ter uma falsa impressão de quem sou no mundo.
Para Calvino, o conhecimento de Deus consiste no fato de saber que ele existe e saber tudo o que se refere e é relevante a Deus e sua glória. Onde não há religiosidade (reverência) e piedade, Deus não é conhecido. Este conhecimento não se refere ao conhecimento de Deus por meio de Jesus Cristo, mas o conhecimento que todos os seres humanos teriam se Adão não houvesse pecado, é o conhecimento primário, não corrompido, mas que foi perdido na queda. A situação do ser humano é tão terrível e danosa que ninguém obterá o conhecimento e desejo por Deus seja como Pai ou como Salvador na pessoa de Jesus Cristo ou de qualquer outra maneira que Deus lhe seja propicio (disposto favoravelmente, compadecido, inclinado a conceder proteção, graças ou favores), isso só acontecerá se Jesus Cristo se interpor entre nós e ele, como mediador, para apaziguá-lo em relação a nós. Conceber Deus em sua mente como Criador, Governador, provedor, bondoso e abençoador é uma coisa bem diferente de recebermos a graça reconciliadora por meio de Jesus Cristo.
Para Calvino, por causa do estado de morte do ser humano, ninguém sentirá a Deus, ou seja, ninguém conseguirá conhece-lo como Pai ou Salvador se Jesus Cristo não se interpor nesse abismo e fazer a mediação apaziguando a ira de Deus e reconciliando o ser humano pecador com o Deus santo. Existe uma nítida diferença entre conhecer a Deus como Criador e conhece-lo como salvador na pessoa de Cristo. Muitos creem na providencia de Deus como criador, sustentador e governador de todas as coisas, mas mesmo concebendo Deus dessa maneira, o ser humano ainda pode não aceitar a reconciliação por meio de Jesus Cristo. Embora em nossa época muitos tem se mostrado agnóstico em relação a Deus e o mundo espiritual, existe grande parte da sociedade que acreditam que Deus é o único Deus verdadeiro, o Criador dos céus e da Terra, dos animais e do ser humano, e mesmo assim não tem um conhecimento dele como salvador na pessoa de Jesus Cristo. Em surpreendido pela alegria, C. S. Lewis narra que passou do ateísmo para a crença em Deus por volta Abril a Junho de 1930, más só ao final de 1931 ele o conheceu como salvador na pessoa de Jesus Cristo, esse é um bom exemplo, embora não seja a regra, de que muitas pessoas podem até passar do ateísmo para a crença em Deus, ou mesmo já ter uma crença em Deus, mas não conhecê-lo como Salvador na pessoa de Jesus Cristo. Isso acontece, o conhecimento de Deus, afirma Calvino, pois Deus se dá a conhecer, tanto na criação, como na Bíblia, primeiro como Criador e depois se revela na face de Cristo [2ºCorintios 4.6]. Poderíamos ainda acrescentar que Deus também se revela na consciência de cada ser humano através das exigências da lei gravadas em seu coração (Romanos 2.15).
Calvino continua dizendo que Deus se mostra, ou seja, se dá a conhecer como Criador, primeiro na estrutura do mundo, ou através das coisas criadas, e também nas Escrituras (a Bíblia), ele se dá a conhecer primeiramente como o criador de todas as coisas e depois se revela como o redentor daqueles que creem na pessoa de Jesus Cristo, ou seja, ele se revela na face de Cristo (2º Coríntios 4.6).Da forma como Deus se revelou dá se um duplo conhecimento, conhecemo-lo como Criador e como Redentor.
Calvino diz que é inexorável o culto a Deus por parte daquele que o conhece, entretanto mostrar que ele é único e que todos devem cultua-lo e adorá-lo não será suficiente se não mostrarmos que ele é a única fonte de todo o bem, se estivermos persuadidos de que ele é a única fonte de todo o bem não buscaremos ser satisfeitos em outra coisa, em outro lugar ou em outro alguém se não nele. O Conhecimento de Deus trará, consequentemente, expressão de louvor a Ele por parte daquele que está conhecendo-o, pois este conhecimento mostrará, por conseguinte, que importa que todos os seres o adorem e o cultuem, mas que também saibam que é dele que procede todo o bem, pois ele é a fonte de todo o bem e precisamos buscar nele, não em outra fonte. À medida que prosseguimos em conhecer a Deus, nossa admiração, entusiasmo, louvor e adoração cresce em direção a Ele, e fica também, cada vez mais nítido, que a nossa satisfação e completude acontece quando nós o conhecemos e nos relacionamos com ele.
Calvino Afirma que Deus é o criador do mundo e o sustenta com o seu imenso poder, é aquele que move o mundo conforme a sua sabedoria, é aquele que o preserva por causa da sua bondade, aquele que rege com a sua justiça e equidade, principalmente o ser humano, suporta este mundo por sua misericórdia, guarda-o em sua proteção e em nenhuma outra parte se achará uma gota de bondade, sabedoria, justiça, poder, retidão, genuína verdade que não proceda dele, que não seja ele próprio a Causa dessas virtudes. Em consequência desse conhecimento precisamos e devemos esperar nele e buscar todas as coisas nele e depois de recebidas dar lhe louvor com ações de graças por meio de Jesus Cristo. Está claro para Calvino que Deus é o sustentador, regulador, preservador, regente, guardador do mundo, e que também suporta o mundo por causa de sua misericórdia, também é fato que toda gota de sabedoria, luz, justiça, poder, retidão e verdade, emana dele, de sorte que todos que anelam por essas coisas, busquem na fonte de toda bondade e luz que é Deus e após terem recebidas deem graças a Ele.   Calvino volta ao tema que foi falado no primeiro capítulo, os muitos atos de bondade, justiça, misericórdia, encontrado nas relações de uns para com os outros, são aquilo que C. S. Lewis chamou, quase quinhentos anos depois, de flechas de alegria com a qual somos atingidos desde a infância, e o objetivo dessas flechadas é descobrirmos quem as está desferindo, a fim de que cheguemos à fonte de toda a alegria – Deus.
Calvino diz que o reconhecimento destes poderes (bondades) como procedentes de Deus é próprio de quem é piedoso resultando no nascimento da religião. Para Calvino a piedade é “reverência associada com o amor de Deus que nos faculta o conhecimento de seus benefícios”. Enquanto o ser humano não perceber que todos os benefícios gozados pelo homem, bem como todo cuidado, vem de Deus que é fonte de todas as coisas boas, não se renderão em obediência voluntária a Deus, enquanto não acreditarem e confiarem que a plena felicidade só é encontrada em Deus, não se renderá por inteiro, ou seja, verdadeiramente e de coração. É por isso que vemos muitas vezes pessoas tristes que acreditaram que a fonte de sua felicidade estava no cônjuge, no casamento, na carreira, no filho, nos pais, numa viagem, numa mudança de cidade, estado, país, etc. Tudo isso é utilizado por Deus para nos mostrar que a fonte de toda satisfação e alegria está nele.  E Deus mostra isso na ausência e na abundancia desses bens.










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