DIÁLOGO COM CALVINO – DIÁLOGO #7 O SER HUMANO NÃO INVENTOU A RELIGIÃO


Tendo em vista que o coração do ser humano foi feito para buscar Deus, é ilegítima a afirmação daqueles que argumentam que a religião foi inventada por uns poucos com o objetivo de sujeitar o populacho simplório. Isto posto, a religião não foi concebida na imaginação do ser humano, não é fruto da inteligência humana, não é resultado da sagacidade de alguns poucos homens com a intenção de manterem em sujeição o populacho simplório, a religião não foi inventada por homens que não acreditava em Deus, mas que fizeram isso com o propósito de controlar as massas.
É claro que existem aqueles que se utilizam da religiosidade para inculcar medo nas pessoas e ter influência sobre elas, mas isso não seria possível, afirma Calvino, se não houvesse a convicção da divindade no coração do ser humano que o tornou propenso para a religião. Por causa da propensão, existe a exploração, e nessa matéria todos são enganados, quem influencia e quem é influenciado. Sem duvida existem pessoas astutas que são mais obedientes a si mesmas e que inventam muitas coisas em matéria de religião com o objetivo de inculcar reverência e temor nos incultos. Mas, isso só é possível porque na mente do ser humano já existe o senso do divino, é ingênito na mente humana a convicção acerca de Deus, é uma semente embutida por Deus em cada ser humano criado, é o pendor natural para a religião (reverência).
Para Calvino não é a falta de crença a respeito de Deus que levou certas pessoas mais esclarecidas a explorarem as pessoas menos esclarecidas por meio da religião, mesmo porque, Calvino afirma que ainda que tenham muitas pessoas que negam a existência de Deus, de tempos em tempos essas pessoas são acometidas de certo sentimento acerca daquilo que eles desejam ignorar.
Calvino usa o exemplo de Gaio Calígula para apoiar o que disse acima, Calígula expressou o seu desprezo pela divindade aos quatro ventos, entretanto, ninguém tremeu mais miseravelmente ante a manifestação da ira divina do que ele. Embora tinha um desprazer na divindade que a todos deixava explicito, desprezando-o  publicamente, estremecia apavoradamente diante de Deus. Este pavor miserável, essa expectação do juízo, aflige a todos que, semelhante a ele, se comportam. Aqueles que petulantemente desprezam a Deus, ao menor ruído de uma folha que cai se apavoram tremendamente (Levítico 26.36).
Este pavor atemorizante vem da parte de Deus sobre todos aqueles que dele tentam fugir, a expectação do juízo lhes espicaça a consciência afligindo-os e exigindo uma solução imediata.
Estes homens, que tentam fugir, buscam por todos os esconderijos possíveis para tentarem se esconder da presença espicaçante de Deus em suas consciências. É um esforço continuo para apagar da memória o senso divino, mas mesmo que exista esse esforço e por breve momento consigam apagar da memória, logo o senso divino lhes espicaça a consciência novamente com ímpeto. O Alivio que estes homens têm da ansiedade da consciência é como o sono do Cavalo, dura pouquíssimo tempo, eles não conseguem repousar tranquilamente, e logo são atormentados por choques da realidade terríveis e apavorantes. Esse medo perturbador, por causa de qualquer ruído ante ao juízo de Deus é um tormento que espicaça a consciência do ser humano que tenta fugir de Deus. Este ser tenta encontrar esconderijos, a exemplo de adão no jardim, para que de alguma maneira tentar se ausentar da presença de Deus, ou tentam apaga-lo da memória, mas quanto mais fazem isso, mais ficam enredados na memoria de que há algo errado, que não vai bem e assim desemaranhando-se do propósito para o qual foi criado, sofre, assiduamente, acossados por medos terríveis e apavorantes, mesmo que de tempos em tempos a intensidade dessa angustia da alma, ceda espaço para um breve alivio dessa ansiedade da consciência.
Calvino diz que os próprios ímpios são exemplos de que existe um estímulo congênito na alma de todos os seres humanos levando-os a alguma noção de Deus.


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