DIÁLOGO COM CALVINO – DIÁLOGO #5 CONFIANÇA E REVERÊNCIA, FATORES DO CONHECIMENTO DE DEUS


Calvino assevera que o ser humano ao invés de divertir-se com questões especulativas e superficiais do tipo quem é Deus, o ser humano deveria interessar-se em saber qual é a natureza de Deus e o que convém a ele em vista de sua natureza. A confiança em Deus e a reverência para com Ele são resultados do conhecimento de Deus. Portanto a pessoa que o conhece não se perde em questões frívolas, mas antes se interessa em saber qual é natureza de Deus e o que lhe convém. O nascimento do ser humano piedoso advém do seu conhecimento de Deus, conhecimento este mediado pelo próprio Deus, através das Escrituras na Face de Cristo. À medida que o ser humano torna-se piedoso através do conhecimento de Deus, esta piedade o leva a aprofundar o conhecimento de Deus, sempre na mediação das Escrituras na Face de Cristo.
Deus cuida do mundo, todas as coisas acontecem sob a sua permissão e é ele quem interage com esse mundo para preservá-lo, ele não está ocioso. O conhecimento de Deus por parte do ser humano o induzirá inexoravelmente ao temor de Deus e reverência para com Deus, depois conduzirá o ser humano que o conhece a coloca-lo como o Guia e Mestre supremo para todas as questões da vida, e também levará o ser humano que o conhece a buscar todo o bem somente em Deus e após tê-lo recebido, dará louvor com ações de graças em reconhecimento dos benefícios concedidos pelo Senhor. O Deus que se revelou nas Escrituras é um Deus que interage com  a sua criação, ele a sustenta e preserva, ele cuida de todo os aspectos e isso inclui a vida do ser humano, por isso temos muito a ver com Deus e o conhecimento dele induzirá o ser humano ao temor e a reverência, tendo-o como Guia e Mestre e aprendendo a buscar todo o bem nele, bem como em render-lhe graças por tudo que tem recebido acreditando que dele procede todas as coisas.
Uma vez que pensamos em Deus, deveríamos refletir que somos criação dele e que estamos vinculados e sujeitados a ele por direito de criação, devendo a própria existência a Deus atribuindo-lhe todas as coisas boas que fazemos. Uma vez que somos feitura de Deus, diz Calvino, como podemos pensar em Deus, refletir sobre ele e não trazer a memoria que lhe devemos a vida, pois ele nos sujeitou ao seu domínio na criação e devemos o considerar em tudo o que fazemos.
Se não agimos em nosso dia a dia reconhecendo que pertencemos a Deus e que sua vontade deve ser a lei que nos conduz em todas as nossas relações, segue-se irremediavelmente que a nossa vida está corrompida. Ninguém pode ver com clareza se não enxergar que Deus é a fonte e origem de todas as coisas boas, e consequentemente a este conhecimento deveríamos nos apegar a ele e confiar nele, mas isso não acontece, pois o ser humano desviou-se da reta investigação para sua própria depravação. Uma vez que o ser humano tem esse reconhecimento de que pertence a Deus em razão dele nos ter criado e de que dele procedem todas as coisas boas, isso deveria leva-lo a busca de Deus, desejando-o e apegando-se a ele, entretanto não é isso que acontece, pois o ser humano desvia a sua mente da investigação correta e se perde em sua própria depravação, e isto acontece para a sua própria destruição.
Para Calvino, a mente piedosa não concebe em sua mente um deus conforme a sua própria imaginação, a mente piedosa contenta-se em contemplar Deus conforme o próprio Deus se revelou. A mente piedosa não vai além dos limites da vontade de Deus e nem aquém da sua vontade, ela se esforça para enquadrar-se na vontade revelada. A mente do ser humano piedoso, diz Calvino, não imagina para si mesmo um Deus conforme a sua mente idealizou, ou conforme sua mente lhe atribui características que não foram reveladas por ele próprio em sua Palavra, antes a mente do ser humano piedoso se contenta em conhecê-lo e tê-lo conforme ele mesmo se revelou e se esforça para não ir além da sua vontade vagueando sem rumo.
Aquele que conhece Deus dessa forma em todas as nuanças de sua personalidade, o piedoso, confia nele e entrega-se a ele para todas as questões da vida, pois está se entregando para a fonte de toda bondade e alegria – Deus. Este reconhece que Deus, o Criador de todas as coisas, é também Senhor e Pai, é Soberano e misericordioso, e isso fará, consequentemente, que o ser humano piedoso reverencie a majestade de Deus, bem como tente promover a glória de Deus, pois reconhece que Deus estabeleceu preceitos que precisam ser obedecidos, pois Deus é justo juiz, e assim o ser humano piedoso considera tanto o seu amor e misericórdia bem como a sua severidade. O ser humano piedoso tem sempre diante dos seus olhos o tribunal de Deus, isso nutre o temor que ele sente diante de Deus afastando-o do pecado e de provocar-lhe a ira, ele “refreia-se de pecar não só pelo temor do castigo, mas porque ama e reverencia a Deus como Pai; honra-o e cultua-o como Senhor; e mesmo que não existisse nenhum inferno, ainda assim treme só a ideia da ofensa”. O ser humano piedoso não se desvia do pecado apenas com medo do inferno ele desvia-se do pecado, pois o pecado para ele é como cuspir na face de Deus – e ninguém jamais cuspiu na face da pessoa amada.
Para Calvino a religião pura e real consiste da “fé aliada a sério temor de Deus, de modo que o temor não só em si contém reverência espontânea, mas ainda traz consigo a legítima adoração, a qual está prescrita na lei. E isto se deve observar com mais diligência: enquanto todos veneram a Deus de maneira vaga e geral, pouquíssimos o reverenciam de verdade; enquanto, por toda parte, grande é a ostentação em cerimônias, rara, porém, é a sinceridade de coração”.










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